A ameaça pagã Velhas heresias para uma nova era



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A Ameaça Pagã
de Cristo”, e então comida. Se uma mulher ficasse grávida, o feto
era abortado, e comido, acompanhado da oração: “Nós não fomos
ridicularizados pelo arconte da luxúria, mas ajuntamos os erros do
irmão”. Isso era chamado de “a Páscoa perfeita”.
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Novamente, o leitor moderno fica chocado. Mas hoje nós
adoramos um deus de liberdade humana ilimitada por meio do coitus
interruptus com o auxílio da camisinha. A matança de fetos de
proporções holocáusticas é o maior dos desastres ecológicos que o
mundo jamais viu. Nossa devoção neognóstica só não tem uma
terminologia eucarística cristã – e sem dúvida isso virá. Nós, também,
fazemos sinais provocativos juntamente com nossa tecnologia
tortuosa na face do Deus da criação, desfigurando radicalmente, com
os dons que ele nos deu, o mundo que ele fez.
u A Câmara Nupcial: Espiritualidade e Pecado
O que acontecia na câmara nupcial, assim como nos cultos de
mistério pagãos em geral, era um segredo muito bem guardado.
Rudolf cria que os valentinianos preparavam uma câmara nupcial
“conforme a imagem das uniões” (sizígio – [a união dos opostos])
que acontecia em contraste com o casamento normal como o “casa-
mento imaculado”.
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 Nessa união a alma retorna aos “braços de seu
parceiro ou protótipo ideal (...) [que] é o evento decisivo no final
dos tempos”.
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 Sem dúvida, algumas formas de representação
dessa união final aconteciam na câmara.
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 Filoramo fala da pessoa
gnóstics sendo “reconstruída em uma unidade andrógina” na
câmara nupcial.
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Em um nível, essa espiritualidade parece ascética e parece negar
o mundo. Um “casamento não poluído”, diz Filipe, “(é) um mistério
verdadeiro. Não é da carne, mas puro. Não pertence ao desejo, mas
antes à vontade. Não pertence às trevas ou à noite, mas antes ao dia e
à luz”.
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 Apesar dessa afirmação da pureza, o que acontecia dentro
da câmara nupcial é de se imaginar. Esse, o leitor se lembra, é o Evan-
gelho de Filipe, que relata que Jesus muita vezes beijava Maria
Madalena, a prostituta arrependida, na boca.
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 A frase, “Cobrir-se-á nesta
luz sacramentalmente na união”, implica nudez espiritual e talvez
física.
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 Se as únicas vestes usadas eram “a perfeita luz”, e o contato
físico com uma mulher é apoiado como o modelo que Jesus que deixa
a seus discípulos, então a alegação dos pais da igreja faz muito sentido.
Como visto acima, Filipe declara que a câmara nupcial é
reservada para “homens livres e virgens”. Em outras palavras, assim


ESPIRITUALIDADE GNÓSTICA
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como os mistérios pagãos não-cristãos, essas iniciações são secretas
e particulares.
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 Dio, o historiador Romano, também observa o
elemento secreto dos mistérios pagãos. “Na melhor das hipóteses”,
diz ele, “nós estamos na situação de bisbilhoteiros, de estranhos no
portão”
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 – ou, em termos modernos, de detetives.
Assim, quem eram as “virgens”? Epifânio, em sua descrição
dos borborianos, chamava de virgens as “mulheres que nunca
tinham chegado ao ponto da inseminação (...) mas estão sempre
tendo intercursos e cometem fornicação.”
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 Admitidamente os
borborianos, que uniam os dois “sacramentos” da eucaristia e da
câmara nupcial, eram sem dúvida os mais radicais. Mas alguma
forma de compromisso sexual não parece fora de questão, dado o
contexto da teologia gnóstica em geral. Seria isso limitado somente
ao grupo extremo radical? Epifânio também nota que grupos
menos radicais como os seguidores de Basilides também
praticavam “relações promíscuas”.
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 Irineu e Hipólito também
pensam assim. E é claro, tal atividade começou com um dos mais
antigos heréticos gnósticos, Simão o Mágico.
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Essa triste informação não é apenas para chocar. Ela ilustra o
programa de desconstrução da sexualidade normativa, marital e
para a reprodução humana. Na verdade, essa desconstrução é
servida tanto pelo ascetismo radical quanto pela promiscuidade.
Sem dúvida que alguns grupos gnósticos eram ascéticos,
particularmente o grupo que guardava os textos de Nag Hammadi.
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Talvez a maioria deles fosse ascética. Mas outros, de acordo com os
pais da igreja, caíram no excesso sexual.
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 Esta última opção serve a
duas funções. Insulta Deus o criador, e reproduz o êxtase por meio
do orgasmo sexual, que é uma prática religiosa pagã bem-
documentada. Epifânio diz dos borborianos : “Eles nunca se cansam
de copular; quanto mais indecente um de seus homens é, mais ele é
elogiado”.
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 Alguns gnósticos que, como afirma Hipólito, se uniram
nas religiões de mistério pagão, provavelmente competiram em
excessos sexuais. O historiador romano Lívio, relata orgias sexuais
comparáveis nas cerimônias de iniciação de Baco. Ele cita o princípio
justificador deles: “Não considerar nada errado (...) era a forma mais
alta da devoção religiosa”.
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 Quão incrível é que um grupo que
afirmava ser cristão não tenha tido nenhuma dificuldade em dizer
“amém” a essa noção pagã radical. De fato, o grupo gnóstico
chamado cainitas disse o mesmo, de acordo com Irineu:


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A Ameaça Pagã
Ninguém pode se salvar a não ser passando através de cada ação,
assim como também Carpocrates ensinou (...) Em cada ação
pecaminosa e vergonhosa um anjo está presente, e quem comete
o pecado (...) se dirige a ele pelo seu nome e diz, “Ó anjo, eu faço
vossa obra! Vosso Poder disto e daquilo, eu faço vossa obra!” E
esse é o conhecimento perfeito, sem medo de cair em tais ações
cujos próprios nomes não podem ser mencionados.
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Que exemplo poderoso, em um texto antigo, da união do pecado
com a espiritualidade que achamos tão comum nos dias de hoje.
Irineu então observa que
De acordo com os escritos deles, antes da partida a alma deve
estar certa de cada aspecto da vida e não deve ter deixado
de praticar nada antes de partir: senão, será novamente enviada
para outro corpo por não ter praticado tudo para obter a
liberdade.
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Ascética ou libertina, tal liberdade vem da rejeição de Deus
como Criador e Legislador, e de um compromisso radical em
destruir as estruturas da criação. O apóstolo João, que conhecia
alguma forma de gnosticismo antigo, emite um julgamento
destrutivo contra todas essas pessoas enganadas: “Todo aquele
que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive
pecando não o viu, nem o conheceu”.
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 O gnosticismo afirmava
o oposto. Suas experiências religiosas são na verdade geradas pelos
atos de pecado. João nomeia isso também. “Aquele que pratica o
pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o
princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir
as obras do diabo.”
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Se o êxtase sexual era parte de cada cerimônia gnóstica da
câmara nupcial, um êxtase de uma natureza mais espiritual (a união
dos opostos) parece ter sido produzido na câmara, talvez pelo canto
de mantras estranhos. De acordo com Irineu, as seguintes palavras
são pronunciadas na cerimônia de casamento:
[Eu te batizo] no nome do Pai desconhecido do universo, na
Verdade, a Mãe de todos, naquele que desceu sobre Jesus, na
união e redenção e participação dos poderes.


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