64
Ainda em relação à finalidade de
ensinar Geometria, temos que ela se apresenta como “um campo
profícuo para o desenvolvimento da capacidade de abstrair, generalizar, projetar, transcender o que é
imediatamente sensível, conferindo ao aluno capacidade para que o mesmo alcance sucessivos níveis de
abstração": primeiramente, o reconhecimento das figuras geométricas, distinção das propriedades inerentes
a tais figuras e, conseqüentemente, o estabelecimento de correlações entre esses dois níveis. Num nível
posterior, o aluno consegue organizar seqüências parciais de afirmações, deduzindo
uma da outra, até que
finalmente, atinge um nível de abstração tal que lhe permite desconsiderar a natureza concreta dos objetos
e do significado concreto das relações entre eles, incutindo no aluno uma “forma progressiva de um
pensamento cada vez mais abstrato".
2
Apesar das considerações expostas acima, no âmbito da sala de aula, o professor, quando o faz
(importante de se frisar), aborda a Geometria de forma a se ater à exposição de teoria e fórmulas,
abordando alguns exercícios de fixação na seqüência, negligenciando ferramentas pedagógicas, talvez
essenciais, como o uso de artes plásticas, através da observação de formas, perspectiva e profundidade em
telas, pinturas, esculturas e até mesmo na arquitetura. É inegável que, por exemplo,
as obras de Gaudi
possam configurar-se como um formidável estímulo ao estudo de retas, curvas e sólidos geométricos.
Exemplos tão válidos e importantes quanto os citados são as aplicações na Astronomia, como o método
usado por Eratóstenes para efetuar o cálculo do raio da Terra e a trajetória de corpos celestes que sempre
se configuram como uma elipse; em Química, a questão da Geometria molecular, fator essencial na
ocorrência de reações químicas ou ainda em áreas como a Geografia, quando se trabalha as projeções do
globo terrestre. Isso sem contar com a enorme gama de opções que o advento da informática proporciona,
através de softwares de geometria dinâmica,
como o
Cabri-Geomètre
e o
iGeom,
este último distribuído
gratuitamente na internet.
Tópicos relacionados à história das descobertas geométricas/matemáticas, como acima citado, e de
seus pensadores são também excluídos dos conteúdos apresentados em sala de aula, perdendo-se assim
uma grande oportunidade de se estabelecer uma conexão entre ciências exatas, humanas e biológicas,
delimitando as possibilidades de tornar as aulas de Geometria mais prazerosas e estimulantes para todo o
tipo de aluno, desde aquele com maior afinidade com a Matemática até o aluno que mais se aproxima de
outros ramos do conhecimento,
proporcionando a este, a motivação necessária para desenvolver certos
assuntos relacionado à Geometria e apagando a falsa impressão de que a Matemática está dissociada de
outras áreas, não tendo aplicações no mundo que o cerca. É comum se trabalhar apenas pontos isolados
que compõe o processo de construção do conhecimento geométrico: concepção, representação, concepção
e construção.
3
Esse equívoco é cometido por grande parte dos educadores, prejudicando, em certa óptica,
o ensino e o aprendizado do conteúdo. É de grande importância para esse processo que o aluno possa
trabalhar a percepção de formas e características, bem como explorar suas representações no plano e no
espaço, além de estudar como podem ser construídas, considerando suas propriedades intrínsecas.
Nessa conjectura, encontramos uma Matemática desvalorizada junto aos alunos, e em muitos casos,
de modo a agravar a situação, em relação aos próprios professores. Nesse ínterim,
cabe mais uma
pergunta que, ao ser analisada de forma mais cuidadosa, pode revelar aspectos fundamentais para a
construção do universo que remete ao ensino de Geometria: até que ponto a formação dos professores
contribui para o agravamento da situação exposta até aqui? Será que nos encontramos num ciclo vicioso
em que os futuros professores, ao receber uma formação inadequada, se receberem, quanto aos recursos
didáticos a serem utilizados em Geometria, ou mesmo em relação ao conhecimento teórico
da disciplina,
65
refletirão em suas futuras aulas a mesma situação encontrada nas faculdades, formando por sua vez,
alunos detentores de uma visão equivocada e deturpada da Geometria, transformando-se em professores
portadores das mesmas deficiências, ou até mesmo mais graves, que de seus antigos mestres? Onde será
o início desse ciclo, na base, no Ensino Básico, ou em um patamar mais elevado, nas cátedras das
universidades?
Buscamos respostas que elucidem tal cenário em que se encontra a Matemática e mais
especificamente a Geometria, bem como a utilização dos resultados na elaboração de novas aplicações
para a educação matemática. Nesse objetivo, iremos nos ater ao percurso histórico
traçado pelo ensino de
Matemática no Brasil, observando processos fundamentais para esse propósito, como o Movimento da
Matemática Moderna, ascensão da etnomatemática e do tecnicismo, bem como seus reflexos nas
propostas de ensino vigentes no país.
Proposta de Trabalho
Para encaminhar os estudos relacionados aos tópicos acima expostos,
serão utilizados os seguintes métodos:
- Levantamento dos contextos históricos, como Movimento da Matemática Moderna, o advento do
tecnicismo, da etnomatemática e das políticas educacionais ao longo dos anos.
- Levantamento e análise das propostas curriculares observadas nos documentos da CENP e dos
PCNs.
- Análise do uso de recursos tecnológicos
nas aulas de Geometria, como softwares de geometria
dinâmica, bem como acessibilidade e usabilidade desses programas.
Resultados Esperados
Através da análise dos dados obtidos nos estudos, tirar conclusões sobre causas e efeitos do formato
de abordagem da Geometria no Ensino Médio, de modo a futuramente, elaborara novas propostas para o
tratamento da Geometria no Ensino Médio.
Referências
[1] MACHADO, Nilson José,
Epistemologia e didática: as concepções de conhecimento e inteligência
e a prática docente
, São Paulo, Cortez, 1995.
[2] MIORIM, Maria Ângela, MIGUEL, Antônio, FIORENTINI, Dario, “Ressonâncias e dissonâncias do
movimento pendular entre álgebra e geometria no currículo escolar brasileiro",
Revista Zetetiké
, Volume 1,
Campinas, CEPEM, 1993.
[3] Pavanello,
Maria Regina, “O abandono do ensino de Geometria no Brasil: causas e
conseqüências",
Revista Zetetiké
, Volume 1, Campinas, CEPEM, 1993.
[4] Pavanello, Maria Regina,”Para que ensinar/aprender geometria?", disponível
em
www.sbempaulista.org.br/epem/anais/mesas_redondas/mr21-Regina.doc
[5] Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio- Parte III: Ciências da Natureza, Matemática e
suas Tecnologias