43 Guia de Economia Comportamental
e Experimental
Dependendo do propósito, as ferramentas comportamentais (veja a coluna “Ferramentas Com-
portamentais”) podem situar-se em qualquer parte de um continuum que vai do descritivo ao mais
prescritivo ou mais orientado para a prática. Enquanto muitos profissionais optam por uma aborda-
gem de domínio geral, aplicável a todos os casos, outros podem achar mais útil um modelo especí-
fico que seja aplicável ao domínio do seu problema (por exemplo, finanças pessoais ou saúde). Mas
não é preciso reinventar a roda. Uma das estruturas mais bem aceitas e universais foi apresentada
há poucos anos no documento oficial “
MINDSPACE
”, publicado pelo Cabinet Office do Reino Unido
e faz um grande trabalho construindo uma ponte entre teoria e aplicação. Na Parte V deste Guia,
intitulada Economia Comportamental e Psicologia na Prática, o Behavioral Science Lab esboça seu
próprio modelo conceitual de EC, enquanto Fehr et al. apresentam sua matriz de mudança compor-
tamental. Exemplos de modelos comportamentais também estão incluídos na taxonomia de nudges
proposta por Codagnone et al. (para uma aplicação, ver próxima seção) e o modelo comportamental
da BrainJuicer apresentado por John Kearon e Tom Ewing, na Parte VI.
FERRAMENTAS COMPORTAMENTAIS: Uma Tipologia Básica
Princípios comportamentais: uma lista de heurísticas e vieses (“aversão à perda”, “viés de
framing” etc.), alguns com exemplos de como atuam na prática, ou uma exposição mais refi-
nada sobre princípios comportamentais ou nudges (defaults, “compromisso prévio” etc.). Essa
abordagem é uma útil estrutura de referência ou checklist.
Exemplos:
MINDSPACE
;
Principles of Persuasion, de Cialdini
O modelo conceitual: identificar relações e categorias. Um modelo simples pode concentrar-
se em vieses cognitivos, emocionais e sociais ou no pensamento do Sistema 1 e do Sistema 2.
Um modelo mais avançado pode integrar diferentes conceitos comportamentais ou fornecer
uma descrição de como fenômenos se inter-relacionam (por exemplo, aversão à perda e Efeito
Dotação). Esses tipos de modelo são muito bons para mapear a psicologia humana ou fazer
classificações.
Exemplos:
Taxonomia do Nudging, de Codagnone et al.
;
“Your Brain On Behavioral Economics”
O modelo de mudança de comportamento: uma abordagem do comportamento humano
mais dinâmica ou orientada para mudanças. Modelos desse tipo podem mapear os estágios
comportamentais. Ou podem mostrar a interação entre processos psicológicos (por exemplo,
motivação para atingir certos objetivos) e fatores do ambiente (por exemplo, frames ou dicas).
Ferramentas como essas são particularmente úteis se forem voltadas para a compreensão de
processos de mudança de comportamento ou de como uma intervenção pode induzir uma
mudança de comportamento.
Exemplos:
Behavior Model de BJ Fogg
;
Stages of Change, de Prochaska
Muitos modelos comportamentais úteis podem ser encontrados em obras de Psicologia publica-
das antes da onda comportamental. Vários deles enfocam a mudança de comportamento motivada.
A teoria do comportamento planejado (Ajzen, 1985), por exemplo, examina a influência conjunta de
atitudes e crenças a respeito de um comportamento, juntamente com normas subjetivas relaciona-
das e controle comportamental percebido. Esses fatores afetam a intenção do indivíduo em pôr em
prática um comportamento e, em última análise, de realmente executá-lo, enquanto outros modelos
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concentram-se em motivações, oportunidades e habilidades (Ölander e Thøgersen, 1995) ou em
“estágios de mudança”, incluindo manutenção comportamental (Prochaska e DiClemente, 1992). Fi-
nalmente, a maioria dos modelos holísticos ressalta que o comportamento individual é influenciado
por fatores nos níveis macro (social), meso (organizacional) e micro (interpessoal e intrapessoal)
(McLeroyet et al., 1988).
Existem diferenças de propósito e aplicação entre as teorias comportamentais, algumas das quais
têm sido usadas principalmente na esfera da saúde (por exemplo, estágios da mudança), enquanto
outras são universais (como a teoria do comportamento planejado). Os modelos, dependendo de sua
interpretação, podem servir a propósitos de intervenção ou explicação. Enquanto modelos comporta-
mentais tradicionais tendem a incluir fatores pessoais, sociais e ambientais relativamente duradouros,
muitos modelos que procuram integrar ideias da EC e disciplinas relacionadas concentram-se mais em
influências do contexto sobre o comportamento, como os ambientes de escolha. Isso se evidencia na
teoria dos nudges e na da arquitetura da escolha, das quais trataremos na próxima seção.
Nudging e Arquitetura da Escolha
Ferramentas comportamentais podem ajudar os profissionais a selecionar, formular ou aplicar nud-
ges, que foram definidos assim por Thaler e Sunstein (2008, p. 6):
Um nudge [...] é qualquer aspecto da arquitetura de escolha que altera o comportamen-
to das pessoas de um modo previsível sem proibir quaisquer opções nem alterar signi-
ficativamente seus incentivos econômicos. Para que uma intervenção seja considerada
um mero nudge, deve ser fácil e barato evitá-la. Nudges não são imposições. Dispor as
frutas ao nível do olhar é considerado nudge. Proibir junk food, não.
Talvez o nudge mais frequentemente mencionado seja o estabelecimento de defaults (padrões),
que são linhas de ação determinadas previamente e que vigoram se o tomador de decisão não espe-
cificar nada em contrário (Thaler e Sunstein, 2008). Trabalhar com defaults é particularmente eficaz
quando a tomada de decisão envolve inércia ou incerteza. Por exemplo, requerer que as pessoas de-
clarem sua opção por não doarem seus órgãos tem sido associado a taxas de doação mais elevadas
(Johnson e Goldstein, 2003).
A teoria e a prática do nudging tornou-se uma área demasiado vasta para ser discutida em deta-
lhes neste texto. Portanto, vamos supor que o leitor já tem familiaridade com algumas de suas ideias,
incluindo as que foram discutidas em seções anteriores deste Guia
.
Uma questão, porém, às vezes é
desconsiderada por profissionais que se veem diante de um conjunto de descobertas
comportamen-
tais: os nudges são mais bem compreendidos em relação a problemas específicos e aos contextos
do comportamento alvo. Codagnone et al. apresentaram um modelo de classificação de nudges com
eixos que denotam dimensões “automática versus reflexiva” e de “afeto quente versus frio”: